quarta-feira, 31 de julho de 2013

RAZÕES DA PALAVRA

Às vezes, você não tem outra opção a não ser falar. Mesmo sozinha. Mesmo no silêncio da sua mente. Abrir-se ao desconhecido, colocar para fora umas impropriedades, alimentar os boatos. Sempre tem alguém para ouvir. E outros tantos para fingir que ouvem.
Gosto de ouvir histórias. Delas me alimento com prazer e, de vez em quando, me engasgo, quase sufoco.  Atraio senhoras que me seguem na rua e desfiam um rosário inteiro de vida. Escuto, absorvo interessada. Talvez, eu seja mesmo uma interesseira ouvinte. Pronta para me apropriar das experiências alheias. Sem culpa ou preconceito.
Tenho admiração por pessoas caladas, introspectivas e serenas. São taxadas de antissociais ou simplesmente antipáticas. Eu considero seu mundo encantador. O mistério como aura e proteção. São momentos assim, meio ostra, meio pérola, que me causam espanto e respeito. Poucos são os que se encaixam neste meditar. Sábios, alguns e  outros na tentativa vã de se fazerem sérios. Logo se dissolvem em um misto de riso e pouco siso.
As palavras não precisam ser perfeitas. Nem sempre seguem as leis da gramática ou da vida. Às vezes, são apenas camuflagem. Outras, atalho para aproximação. 
Enganos acontecem com as palavras escritas e faladas. Nem todas as pessoas se abrem como um livro cheio de figurinhas coloridas e palavras ensolaradas por todos os lados. Não. Muitas cobrem-se de véus inconfessáveis. Protegem sua privacidade com unhas, dentes e todos os bloqueios possíveis. Talvez seja mesmo o certo.  No entanto, penso que não devíamos ser nem montanha nem ilha. 
As palavras nem sempre protegem, nem sempre gritam. Se são ditas provocam algo e se caladas formam uma região arenosa com limites. Muitos limites e alguma profundidade, eu diria. Só diria.