domingo, 18 de agosto de 2013

EXPECTATIVAS - TER OU NÃO TER?

Quando tudo é novidade parece ser muito difícil manter a serenidade. Olhar para os acontecimentos como quem visualiza paisagem exige disciplina e bom senso. Talvez, até mesmo um certo ar blasé. Um distanciamento quase de ignorante leitor. 
Ceder à tentação de criar fantasias sobre algo ainda mal parido pode causar irreparáveis danos. Trabalho minucioso esse de cortar delírios de esperança. É como podar asas com tesouras de unha. Lentidão, concentração e muita paciência. Mas é preciso fazê-lo antes que um machado invada a cena e golpeie de vez essa frágil circunstância. 
Gostar ninguém gosta de ter que fincar os pés no chão. É pesado, rude e sem graça. Não desenvolve trilha sonora alguma. No máximo, provê a sobrevivência arrastando ferro em bolhas. Delicada história que mal se forma e já se retira ao cárcere de realismo. Parece crueldade, mas pensando bem, deve ser mesmo. Por de castigo quem só ameaçou errar a conta, quem soletrou sonho de trás pra frente, quem trocou de continente intenção e querer. 
Criar expectativas é como olhar para uma fotografia e não se reconhecer nela. Não são os seus traços lá, você é muito melhor, é o que ainda vem, o que ensaia para acontecer. Acredita nisso, se alegra por isso, espera por isso. Senta-se no último degrau, em prece, talvez roendo unhas. Frio na barriga, olhos brilhando, um soluço na alma que nunca se acalma. De algum modo, intensamente feliz. 
O lado perverso da expectativa é que ela anda de mãos dadas com a ilusão. O encantamento do melhor por vir, da história sem fim, da cura em festa, tudo se mistura à possibilidade de portas fechadas. Aí dói, sangra, maltrata. E dizemos que nunca mais buscaremos o que não é pra ser. E como  não sabemos o que é pra ser, não tentaremos novamente. Nada. 
Melhor não criar expectativas. É o que dizem, escrevem e reforçam. No entanto, quem quer viver pra sempre? Quem aceita pagar o preço por um pedaço de felicidade? Mesmo que esse pedaço seja o antes da festa rasgado do convite da estreia? Vale a pena ou não? Talvez somente para as almas tamanho G. 

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